domingo, 15 de fevereiro de 2009

Eu e só eu ...

Costuma-se dizer que mais vale sentir dor do que não sentir nada.

Pois eu não sentia nada. Fiz um pacto de não sentir. A dor de perder algo precioso é, por experiencia, demasiado grande.
Deixava correr a vida, ao acaso, apenas sorria, limitava-me a ver o que ela me trazia. Lidava com os problemas quando me deparava com eles, não fazia projecções, planos, nem analisava riscos. Não me importava de quem estivesse á volta e fazia questão que não se importassem comigo.
Combinava encontros e não aparecia, marcava saidas e só na hora decidia ir. Era superficial, sabia disso, mas protegia-me da dor, aquela que nunca mais queria sentir. Não me importava com o mundo e nada há nele que me faça sentir. As minhas alegrias eram feitas do momento, ou jogava ou via televisão, ou ouvia musica, ou beijava alguem porque sim, ou deixava de beijar, também porque sim ...
Nunca fui um bom amigo, ou confidente. Sempre fui a ovelha negra da familia, também não me importava porque por ela não sentia grande coisa. A minha paixão era a minha juventude, de a viver comigo, sozinho sem nada. Se eu não tiver nada, ninguem me pode magoar e tirar o que é meu.

Entrei na universidade quase sem querer, sem me importar se entrava ou não. Se isso não me fizesse feliz também não me podia pôr triste.
Esse foi o acaso que o destino me trouxe, e enchou a minha vida ... de vida.

A minha equação desfez-se quando te vi. Num dia casual, onde mais uma vez só fui tomar café porque decidi no momento. Os teu cabelos enormes e volumosos, os teus olhos azuis e o teu sorriso incandescente viraram o meu mundo do avesso. Tu eras o oposto. Eras a amiga, confidente que nunca se esquecia do anos de ninguem, sensivel e profunda, a estrela cintilante da constelação familiar, o exemplo, a adulta, a madura e prudente.
Á minha matemática tiras-te o sentido. Não sentir faz-se á custa da felicidade, soube-o contigo, descobri-o contigo. As duas são gemeas seamezas e matando uma matamos outra.

Nunca percebi o que viste em mim, nunca consegui perceber que raios achavas que eu podia ser, mas a verdade é que sem me aperceber a minha vida já não funcionava á minha volta, já fazia planos, já me importava quando marcava encontros e não ia, já ouvia os segredos dos outros, já dava conselhos, já gostava dos meus amigos e já gostavam de mim. Nunca me apercebi disto, as minhas barreiras pareciam que nunca tinham existido, pareciam que se tinham diluido, evaporado em pleno ar. Amar-te chegou tão subtilmente que nem sequer soube que te amava, para mim era natural, era assim que sempre tinha sido, nunca me preocupei em questionar o meu amor por ti, mas principalmente nunca questionei o teu amor por mim.
Talvez fosse esse o problema, porque quando decadas depois começamos a ficar distantes pus sempre a culpa na vida, no cansaço, no trabalho ... ... ... na rotina. Mas o problem foi eu nunca ter deixado as minhas barreiras derreterem por completo, foi deixar sempre qualquer coisa para me defender, ter sempre um pouco de criança em mim e ter-me sempre um pouco mais á frente dos outros.

Eu que era a unica pessoa que nunca me magoaria, essa era a matematica, fui o unico que arrastou a felicidade para longe de mim. Sem me aperceber, sem dar valor ao que me ias dizendo, sem te dar tudo o que merecias e pedias entre dentes e pensamentos, lentamente fui despedaçando a tua crença em mim, nos principes e historias de encantar. Eu que sempre me protegi, dava agora um golpe nas minhas proprias costas, á traição, sem me aperceber que enterrava cada vez mais a lamina da tristeza no meu coração, e que um dia ia ser fatal.
Esse dia, inevitavelmente, veio fazer contas comigo.
Diante S. Pedro não tinha argumentos para entrar no paraiso.
Agora espero um milagre, penso em ti, sinto saudades de ouvir os teus passos, a tua voz, a tua presença, de chegar a casa e dizer que passei o dia cheio de vontade de regressar, e sinto pena das vezes que o sentia e não to disse, sinto pena das vezes que pude ir mais cedo e não fui.

Toda a minha matematica se foi, e a unica equação válida é que tenho de viver com o facto não ser o mundo a trazer-nos tristeza. Os unicos que têm esse poder somos nós proprios. Agora, tenho a tristeza tão perto, que já me acostumei a falar com ela, já faz parte do meu dia. Já estou tão abituado que já não a deixo ir. Gosto da minha tristeza, gosto de fumar o meu cigarro, ouvir as musicas que a minha tristeza gosta, falar com ela e pedir-lhe, para pelo menos ela, não me deixar. Acho que fiquei apaixonado por ela ...

Mas o mundo sempre me há-de ver a sorrir para ele, porque o meu orgulho é maior que eu ..... mas lá por eu sorrir e fazer piadas constantemente não quer dizer que seja feliz ...

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